SAÚDE MENTAL E OS AMBIENTES

Você já prestou atenção que ao entrar em determinados ambientes eles despertam sensações de bem ou mal estar, conforto ou desconforto? Para explicar um pouco sobre essa relação da visão técnica da arquitetura com a saúde mental e os ambientes, neste texto contaremos com a participação da Psicóloga Clínica e Especialista em Neuropsicologia, Andrea Bahia.

A Neuroarquitetura, assunto que já tratamos aqui no blog do Grün Studio Arquitetura e Urbanismo, mede os efeitos cerebrais dos ambientes.

Na década 1960, tendo como base alguns estudos de Kurt Lewin, pesquisadores deram início a construção da Psicologia Ambiental, que compreende o comportamento humano e sua relação com o meio ambiente.

Essa abordagem ganhou mais visibilidade a partir do aumento do aquecimento global, da poluição e a escassez da água, prejudiciais à saúde física e mental.

As sensações e reações, que os ambientes podem transmitir, são bem amplas e ricas. Adoramos esse tema, pois influencia completamente a nossa qualidade de vida, refletindo no que sentimos, pensamos e como agimos!

No nosso dia-a-dia tão corrido, não temos tempo para aproveitar os pequenos momentos em relação ao ambiente natural reclamando sempre, faça chuva ou faça sol.

Além disso, passamos o dia inteiro dentro de escritórios, veículos, ou em home office, devido a pandemia, não nos motivando a usufruir do que a Natureza nos proporciona e a importância desses fenômenos, para a nossa convivência saudável em sociedade.

Arquitetura, sustentabilidade, paisagismo e psicologia

A Neuroarquitetura e a Psicologia Ambiental vieram como resposta, para amenizar e tratar os efeitos negativos da sociedade moderna. Diante desse histórico, fica claro no âmbito da arquitetura, a relação da sustentabilidade, do paisagismo urbano com a psicologia.

Esse desejo de se aproximar da Natureza é inato ao humano, pois nossos antepassados tinham com ela uma convivência de sustento e reprodução.

Quando estamos em contato com o ambiente natural, nosso cérebro libera as substâncias, neurotransmissores e hormônios, que nos fazem sentir mais felicidade e bem estar, como o prazer proporcionado por um chocolate em dias de tensão, ou a de estar na companhia de pessoas das quais gostamos muito.

Estar bem consigo mesmo e com o ambiente resulta em um estado mais saudável, para o corpo e para a mente. A comunicação entre as áreas do conhecimento preza pelo bem-estar e considera o ambiente, muitas vezes, como um importante fator de influência no desenvolvimento e no estado mental que são essenciais para construirmos espaços e ambientes inteligentemente mais saudáveis.

Na escola de arquitetura e urbanismo, temos a Disciplina Estética. Em 1735, Alexander Gottlieb Baumgarten, um Físico e Professor de Filosofia, pioneiramente introduziu o termo “estética”, que era a Ciência do Conhecimento Sensorial, que chega à apreensão do belo e se expressa nas imagens da Arte.

Já as Ciências do Comportamento originam-se nos estudos da Filosofia com Platão e Aristóteles, com ênfase no pensamento lógico. Mas é no século XIX, que a Psicologia Cognitiva é reconhecida e validada através de teorias, que buscam definir como as informações, estímulos e emoções são processados por meio de funções cognitivas como percepção, atenção e memória.

Portanto, é de extrema importância que o ambiente esteja belo e bonito, mas também, confortável, saudável e funcionalmente pensado para proporcionar fluidez de forma equilibrada para a nossa cognição.

Então, como aplicar todo esse conhecimento na prática?

Nesse assunto não podemos aplicar o “faça você mesmo”, não mesmo!

Assim como é altamente perigoso não ir ao médico e se automedicar, a contratação de um especialista para construir ou reformar a sua residência, escritório ou qualquer espaço é primordial.

Portanto, o ideal é contatar um arquiteto urbanista para que ele projete os espaços saudáveis, seguindo um roteiro das suas necessidades.

A consulta com um psicólogo neste contexto está indicada, diante da necessidade de orientações, quanto a medidas ambientais, influenciando em problemas de comportamento, impactos emocionais negativos e dificuldades cognitivas. Caso você, sua família ou seu filho estejam passando por um quadro de stress, ansiedade ou insônia, além do arquiteto, é importante que esse ambiente seja avaliado por um profissional de saúde especializado. Entender como é sua dinâmica diária nos ambientes que você usufrui, para analisar se ajudam ou agravam seu quadro, é fundamental neste processo.

Agora, vamos exemplificar algumas situações.

Sobre saúde mental no ambiente para crianças

Na Arquitetura, é sabido que em espaços para a aprendizagem, cores e estímulos são importantes para as crianças. Entretanto, para o quarto de dormir, cores calmas ou temas de decoração que tragam tranquilidade é, também, muito importante.

No Método Montessoriano de ensino, existem mobiliários específicos para as crianças, idealizados para a construção da sua aprendizagem. Outra informação relevante a destacar é que o cérebro das crianças ainda está em desenvolvimento, assim como suas funções cognitivas. Por isso, elas vivem em uma grande aventura que é descobrir e explorar qualquer que seja o ambiente a sua volta. Como tudo é uma grande novidade, elas precisam de uma boa dose de tempo e espaço adequados.

A imaginação deve ser estimulada ao máximo desde cedo, através de equipamentos e brinquedos, para que a criança compreenda, espacialmente, os objetos, os seus significados e função.

O desenvolvimento da memória da criança ocorre, através da execução da tarefa. Experimentando, criando, montando, a criança está aprendendo a executar.

O equilíbrio e a coordenação acontecem através dessa experimentação com o agarrar, levantar e explorar, revertendo num longo processo de raciocínio, que está agora a iniciar-se.

Por isso, a interação da criança com o mundo que a rodeia é essencial para que possa desenvolver as suas capacidades. Atualmente, a tarefa mais difícil é manter os quartos das crianças como um ambiente não muito saturado, sem tantos brinquedos acumulado em só espaço. Brinquedos em excesso dispersam a atenção da criança e dificultam o processo criativo e a tarefa de organização

Sobre saúde mental no ambiente corporativo

Quando pensamos em espaços corporativos, a organização é fundamental, mas não é apenas isso. Iluminação, móveis ergonômicos também fazem a diferença para o rendimento e também pode trazer bem-estar aos colaboradores.

Concebido para ser um local de produtividade, o espaço corporativo logo proporciona uma maior exploração do potencial cognitivo, certo!? Nem sempre.

Para que uma pessoa consiga explorar seu potencial cognitivo, um ambiente precisa ser sensível ao tipo de trabalho a ser desenvolvido. As ferramentas, móveis e objetos devem ser identificados e dispostos de forma acessível e organizada para favorecerem o processamento de informação, em especial levantamento de ideias, processos criativos, de raciocínio e tomada de decisão, individual ou coletiva.

Já reparou que muitas vezes, chegamos a uma conclusão sobre um determinado problema quando não estamos no trabalho?

Isso acontece porque o nosso cérebro precisa de descanso e distância do estímulo, para voltar a fazer boas conexões. Portanto, conhecer tais características cognitivas (mais visuais, mais auditivas) das pessoas que ocuparão este espaço pode fazer toda diferença.

Sobre saúde mental no ambiente de casa

Neste momento de isolamento social, devido ao COVID-19, todos passaram a observar bem mais os seus ambientes domésticos. No quarto, se a cama está adequada, na cozinha, se temos todos os utensílios necessários, repensando inclusive o espaço de #homeoffice, e por aí vai!

Passar mais tempo em casa, provocou mudanças na rotina, mas sobretudo no comportamento das pessoas.

Espaços anteriormente reconhecidos como de descanso, forçadamente foram se transformando em cantinhos de trabalho e estudo, ou simplesmente substituídos, infringindo os limites do bem-estar cognitivo e emocional.

Certamente conhecemos alguém que enfrenta problemas para dormir, ansiedade, ou simplesmente se sente mais irritado ou impaciente. Em todas estas situações, a organização de uma rotina com horários de refeições, tarefas bem distribuídas de forma organizada e equilibrada são fatores centrais, para a minimização dos seus efeitos.

Para tanto, é necessário um ambiente que esteja devidamente organizado para cada uma destas situações, garantindo os limites e significados deste espaço, favorecendo o direcionamento para um comportamento adequado a tarefa a ser cumprida.

Sobre os espaços hospitalares

Os hospitais e centros de saúde devem ser regidos por uma série de pautas e dimensões predeterminadas, que respondam às dimensões padronizadas dos diferentes equipamentos e às necessidades de cada procedimento médico.

Isso também é levado em conta nos espaços de recuperação dos pacientes. Historicamente carregados de significados sociais negativos, o hospital culturalmente passou a ser um local de dor e sofrimento, onde nossos sentidos são capazes de disparar em milésimos de segundas informações através do cheiro, cores, luzes sinalizando um ambiente de tensão e risco.

A rede Sarah de Hospitais de Reabilitação é um exemplo que vai na direção oposta. É um projeto minimamente pensado em cada detalhe, onde facilmente identificamos a aliança admirável entre a medicina e arquitetura. Desde o sistema de ventilação, espaços abertos de atendimentos, mobiliários, uniformes dos profissionais, cores, jardins, obras de arte. Um legado brasileiro que nos mostra como um ambiente integrado a natureza pode favorecer e contribuir para o tratamento médico.
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Texto:

  • Andrea Bahia | Psicóloga pelo Conselho Federal de Psicologia e Reabilitação Neuropsicológica da USP – https://www.instagram.com/andreafigueiredobahia/
  • Joanna Marino | Diretora do Grün, Arquiteta Urbanista pela Faculdade Escola da Cidade, Mestre em Urbanismo Sustentavel pelo Université Rennes II – França

Fontes:

Imagens ilustrativas: